quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Rotina oculta

Ela calçou os sapatos, retocou a maquiagem, ainda em sintonia com seu cheiro atraente.
Abriu a porta devagar e viu aquele corpo esticado na cama, sua maior vontade era pular em seus braços e acalentá-lo. Respirou fundo e resolveu voltar. Enquanto virava as costas ele foi despertado por uma batida repentina de seu cotovelo na cômoda ao lado da porta.
- Por que já vai?
- Não quero atrapalhá-lo, só vim vê-lo.
- Estava desejando esse momento, venha até aqui – ele falava enquanto levantava da cama e jogando o lençol, deixando à tona seu corpo nu.
O corpo dela se contraia por dentro, sentia aquele frio delicioso na barriga e a vontade aumentava a cada vez que ele se aproximava dela.
Roçou em seu ouvido:
- Eu não vejo a hora de lhe dizer aquilo tudo que eu decorei para nós.
- Não há o que dizer – ela falava tentando manter o pulso firme.
- Há sim, você se casará comigo e eu já decorei tudo que é preciso para falar um sim naquele altar.
- Como você é ridículo – ela mencionava sem demonstrar atração.
Ele puxou-a pelo braço e tentou beijá-la. Sem pestanejar ela retrucou:
- Não vou fazer isso se a primeira coisa que você vai dizer depois é "não conte a ninguém". Já estou farta disso tudo em oculto. Você, eu e uma história de amor que não pode ser revelada.
- Mas eu vou me casar com você e tudo isso mudará.
- Mudará? Mudará quando? Você é casado, como pretende casar duas vezes?
Ele puxou-a contra si, aquele cheiro dele deixava-a louca de prazer. Ele encostou seus lábios na nuca dela e aquilo mais parecia um teste impossível de ser passado de fase.
Beijou-o. Beijou-o com tanta intensidade que sua boca por completa invadia a dele. Beijou-o que a temperatura do quarto já não fazia valer as mesmas de segundos atrás. O vestido dela foi caindo as alças e ele pedindo mais, pedindo e ela cedendo. Ela pedia e ele cedia mais do que tudo.
Ela queria pensar em tudo, nos planos, nos projetos, mas não conseguia. A todo instante sabia daquele amor platônico.
Fizeram amor até anoitecer, quando ela já não aguentava senti-lo dentro dela.
Ele adormeceu.
Ela acordou-o.
- Eu não quero falar agora, não sabe que preciso dormir?
- Venha aqui, amor... Quero saber quais as frases que você tanto decorou para nosso encontro no altar.
- Lá vem você com essa história de casamento de novo, não aguento mais! – ele falava meio sonolento, mas era notório o entendimento.
- Você disse que se casaria comigo – ela disse indignada com a resposta dele.
- Eu já sou casado, esqueceu? Não posso fazer nada.
Aquilo mais parecia uma facada em seu peito. Ela levantou, tirou um objeto gélido debaixo da cama e sacudiu-o:
- Acorda, seu cretino!
Ele arregalou os olhos e viu a arma apontada para si.
- Não faça isso, pelo amor de Deus. Eu não fiz nada! – ele gritava enquanto pulava da cama tentando desvencilhar-se da mira.
Eu sou o seu brinquedinho, não sou? Vá achando, seu cachorro!
Ela atirou e colocou fim a mais um ponto final.

Ela abriu a carteira dele, tirou dinheiro, cartão, cheques, documentos; pegou um lenço em sua bolsa, limpou as digitais da cama, na cômoda, da carteira, pegou a munição que restava no revólver e colocou em cima do corpo. Limpou a maçaneta e saiu.

Entrou no outro quarto do hotel, tirou os cabelos negros e agora aparecia uma ruiva; retirou a maquiagem e mostrava nitidamente suas sardas. Trocou o vestido, embrulhou-o com cuidado e colocou dentro da bolsa.

Sentou na cama, pegou o telefone e discou para a polícia. Informou que ouviu tiros e não sabia do que se tratava, pediu urgência. Ela chorava desesperada, uma cena e tanto para uma novela de horário nobre. Ela manuseava o revólver como um amigo íntimo e não parecia se importar. Averiguou se havia algum resquício de munição e por fim jogou-a na janela da sacada que ficaria em frente a dele.

Arrumou suas coisas e saiu, ruiva, linda e esvoaçante.
“Não existia crime perfeito até não existir os meus crimes” – ela levava essa frase consigo e a repetia a cada caso envolvente com um de seus amantes.

Pauta para o projeto Bloínquês


5 comentários:

Hilza de Oliveira disse...

Uau, o que a Globo não sabe que está perdendo...

renatocinema disse...

Nelson Rodrigues encontra Quentin Tarantino......adorei.

Taynná disse...

Nati, ruiva fatal hein?

rs

Boa sorte!!

=)

Naty Araújo disse...

Geeeeeeente, obrigada.
HAHAHAHA... Não aguentei de rir aqui com os comentários de vocês rsrsrsrs.

Lara Vic. disse...

Uau, muito incrível, super inteligente a idéia! Acho que ele mereceu morrer, imagina a quanto tempo ele não enrolava ela?
Adorei imaginar a morena matadora virar uma ruiva singela, consegui ver quase como se fosse eu no espelho deixando as sardas a mostra. Parabéns, mereceu primeiro lugar *-*