domingo, 11 de agosto de 2013

O pequeno grande do heroi


Era domingo de dia dos pais.
Tentava, mas seus bracinhos não conseguiam envolver ele todo. Ele, tão alto e forte. Então o abraçou como podia e deu-lhe um beijo no rosto, sorrindo, mas meio triste de ser tão pequeno perto dele. E quem se orgulhou foi o pai. Este sim conseguiu envolver aquele menininho todo nos braços num instante. E o pequeno entendeu que seu tamanho não importava enquanto tivesse seu grande heroi por perto.

sábado, 27 de julho de 2013

Arrependimento mau caráter

_ Quando finalmente o segurei em meus braços, e olhei para ele, tão pequeno, indefeso e lindo, foi o dia mais maravilhoso da minha vida. Foi quando entendi porquê é possível o sol se abrir mesmo com chuva caindo: sorri e chorei ao mesmo tempo. Aqueles pezinhos gordinhos e branquinhos que mais pareciam um pão de leite davam muita vontade de morder, e seu pai não ficou a desejar quando chegamos a nossa casa. – Sorriu olhando para baixo, como se estivesse voltando no tempo, lembrando daquele momento. - Dei uma festa cheia de doces, salgadinhos. Havia até bexigas. Até então minha vida nunca havia sido tão feliz... E nunca seria, se eu não tivesse uma criança que jamais poderia sair de mim.
A amiga ouvinte tentava conter a emoção com as lágrimas que queriam saltar dos olhos. Mas mais difícil que contê-la era deixar aquele aperto de lado, a que qualquer um daria o nome de arrependimento mau caráter.
_ Como se sentiu quando soube que não podia engravidar? – Por fim perguntou.
_ Foi triste. Mas desde que eu conseguisse adotar uma criança, entenderia que era preciso que eu fosse estéril, pra que esta pudesse ter uma família. E assim foi. – Não parava de sorrir – E eu o amo tanto, Arlete, tanto!  Meu Ivanzinho. – Disse quase que para si mesma, abraçando uma almofada e olhando o retrato do garoto de agora 15 anos, que estava na estante da sala logo à frente delas que estavam sentadas no sofá.
Arlete engoliu o choro.
_ Ele teve muita sorte de encontrar uma mãe amorosa e carinhosa como você. E um paizão atencioso e calmo como seu marido. – Comentou de todo coração.
_ Nós é que tivemos sorte, minha amiga. Felicidade para eu e meu marido não existiria com a ausência desse pequeno. – O sorriso que tanto esboçou o tempo inteiro deu lugar a uma singela e pesadinha lágrima agora.
_ Ah, meu Deus, me esqueci que tenho um compromisso daqui a pouco e estou atrasada. – falou num repente conferindo o relógio no pulso.
Despediram-se. Arlete já na rua e de costas para a casa humilde, mas cheia das coisas mais ricas da vida, pôde chorar fervorosamente. Não sabia se voltaria a se falar com Marta. Seria difícil depois de tanto procurar e descobrir secretamente que Ivan é seu filho biológico que havia abandonado ao nascer porque o marido carrasco e beberrão mandou. Estava arrependida racionalmente. Mas seu coração ainda sim preferia o homem. Ou o contrário, quem sabe – Digo arrependida emocionalmente.
Tinham pena dela os estranhos que a viam caminhando ao pranto pelas ruas. Mas é porque não sabiam que apesar de um choro arrependido, ela preferiu um homem ao filho.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Saudades


Abro a porta do quarto e você ainda não está. O tempo está passando rápido demais ultimamente, mas o dia da sua chegada demora a vir. O sino tilinta a cada hora, ouço o cantar dos pássaros a simbolizar os segundos, nada de você. Percorro pelos trilhos mais distantes, viajo a milhas e milhas. Ando, caminho, corro, mas a sua presença não é chegada, apenas o tempo se aproxima. Dia vinte e sete não chega e, com ele, minha felicidade também não, ainda não.

terça-feira, 4 de junho de 2013

Remorso

Quando seu pai era vivo pouco o via. Raramente em natais ou páscoas. Do dia dos pais ele nem lembrava.
Quando seu pai morreu passou a visitá-lo todos os dias. O problema é que ele sabia que aquele caixão guardava menos o seu pai do que as lembranças.

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Martelada final

Ele corria incansavelmente à procura de ajuda. O sol queimava seu rosto e o asfalto da estrada tornava-se verdugo aos seus pés. A sequidão da temperatura rachava seus lábios, mas não havia água para saciar sua sede. O desespero tomou conta de suas entranhas.
Sem conseguir ir adiante, ele parou e caiu no chão ardente. Seu coração martelou uma vez, duro, espremendo duas lágrimas quentes de seus olhos e se dissiparam ao tocar o fogo do chão que o consumia devoradamente.
Um carro passou ao seu lado e simplesmente não o ajudou.
Mais uma martelada, dessa vez mais dura, e novamente as lágrimas queimavam aquele rosto, juntamente com o sol escaldante. Ele chorava e não tinha ninguém que pudesse consolá-lo. De repente outro carro passou e enfim resolve parar. Abaixou o vidro e olhou profundamente naqueles olhos abatidos e decidiu ajudar. Pegou-o no colo e colocou no banco de trás. Ele desesperado só queria ouvir uma voz, um sorriso dela mais uma vez, uma única vez. Mas ela não o fez... Foi levada por homens, num carro. Ele correu demasiadamente para procurá-la.
Já deitado no banco, outra martelada, a terceira, dessa vez foi tão dura que ele não resistiu. Fechou os olhos e nunca mais abriu para contemplar a continuação da estrada que ainda o restava a seguir e sem a certeza se sua filha ainda estaria viva.